De folgado, vivia apertado. Em vez de ir atrás dos prazeres, ficava sentado esperando por eles. Gostava de palavras! Gostar é pouco. Gozava com elas! Gostava delas como um astrônomo gosta de satélites, ou como um ornitólogo gosta de beija-flores, ou como um gemólogo gosta de vidros. No entanto, diferente deles, não dependia de possuir lentes ultra-modernas, nem para longe e nem para perto, bem como não precisava ir dali até as flores e cansar de descansar a esperar pela sorte. O que lhe dava doce à vida não estava escondido, nem dentro e nem longe, e se fossem flores, de ficarem ao seu redor o sufocariam, por menor que fossem, de tantas que seriam. Se fossem flores as palavras o matariam. E nesse caso haveria quem defendesse ter sido suicídio. Ele amava palavras. Ia dormir pensando nas últimas e sonhava com as que ninguém dizia. Acordava dando bom dia à primeira coisa, pessoa e ideia fixa que aparecesse no caminho até o vaso sanitário. Saia de casa sorrindo e passava o dia subindo e de
quando duas mãos se permitem tocar, umas estrelas nascem. outras morrem... um milhão de possibilidades há mas nada se compara a quando os dedos, todos eles, tanto de um como de outro, ao se tocarem, chegam uns aos outros devagar e levemente... ao se tocarem devem fazê-lo de modo que entre dois dedos de um não haja mais do que um dos dedos do outro, cuidando ainda pra que não falte dedo do outro entre cada dois dos dedos do um. ao se encaixarem, devem insistirem, moldando-se as juntas de um ás do outro, pressionando-se e apertando-se uns dedos contra os outros no limite desse encaixe, naturalmente fechando esses dedos todos eles, numa posição de garra, cravando-se no que agora deixava de ser dedos e passava a ser mão, cravando-se nas costas das mãos do outro, fundindo-se, massageando-se, esfregando-se e afastando-se, repelindo-se, na verdade nada mais que se permitindo o prazer daquele encaixe novamente, e novamente, e novamente... as palmas podem sentir-se. o capricho d